terça-feira, 30 de novembro de 2010

Não a limpeza étnica! Sim aos direitos humanos!


Faço minhas as palavras abaixo do  diretor de Direitos Humanos da UNE, Rodrigo Mondego.

Durante a última semana observamos a grande onda de violência e ataques contra veículos no Rio de Janeiro, estes que desencadearam a invasão e tomada das comunidades do Complexo da Penha e Complexo do Alemão. A operação contou com a participação da polícia civil, militar, federal e forças armadas, sob o intuito de: “Retomar aquele território de volta para o Estado” assim como o governador Sergio Cabral definiu.

Para conquistar o grande objetivo da operação, as forças do Estado não mediram esforços e simplesmente ignoraram alguns direitos básicos garantidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e nossa Constituição Federal. Podemos citar:

- Muitos suspeitos que foram detidos não tiveram, até o momento contato com nenhum advogado ou defensor público. Sendo que o critério que torna o cidadão suspeito, varia entre o fato de se ter passagem na polícia ou possuir porte ilegal de armas, além do fator étnico e etário.

(Vale lembrar que enquanto todas essas execuções acontecem, crianças estão há dias sem aula e que isto cria uma enorme e preocupante margem de susceptibilidade destas para entrar para o tráfico).

-Centenas casas foram invadidas e reviradas sem nenhum mandado emitido pela justiça. Imaginem se 30 mil residências da Zona Sul teriam o mesmo aval da sociedade para ser invadidas sem mandados?

-Algumas mortes de suspeitos têm indícios de execução sumária.

Mesmo com todas essas violações o desfecho poderia ter sido ainda pior, se seguisse à lógica da ocupação do complexo do alemão em 2007, onde todas as mortes tinham indícios de execuções sumárias feitas por agentes do Estado. É público e notório a insatisfação de setores da sociedade com o desfecho da ocupação do complexo do alemão agora em 2010. O fato de ter ocorrido “apenas” cerca de 50 mortes, desde o inicio dos conflitos vividos durante esta última semana, frustrou quem queria ver ainda mais carnificina ao vivo na TV, divulgado principalmente por programas de caráter sensacionalistas e sem nenhuma preocupação ética para com a sociedade.

O discurso anti-Direitos Humanos esta sendo visto abertamente. Nas ruas, nas redes sociais e na mídia, ouvimos coisas como:

“Direitos Humanos para Humanos Direitos.”

“Direitos Humanos só serve pra bandido”

“Morte aos bandidos.”

“Tem que subir o morro passando o cerol em todo mundo.”

“Esses ai não tem jeito, era a oportunidade de livrar a sociedade dessa vagabundagem para sempre.”

Estas invasões e represálias das forças armadas nas comunidades não passam de uma varredura da poeira para debaixo do tapete. Enquanto não houver  um trabalho funcional de inclusão social dos grupos considerados marginalizados não haverá paz!

Esse discurso, que para nós do movimento social é inaceitável, vem ganhando eco na sociedade e ainda mais adeptos. Nos últimos anos os Direitos Humanos sofrem ataques sistemáticos da grande mídia. O lançamento do 3° Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH-3) agravou ainda mais isso, um grande “bloco reacionário” da sociedade ( composto pela igreja, ruralistas, grande mídia, militares ... ) começou a agir de maneira uniforme para atacar o programa.
Apesar da recente vitória vivida pela esquerda na última eleição presidencial, o conservadorismo avançou como nunca no último período.

O discurso homofóbico, xenófobo (contra os nordestinos) e machista, foi usado como plataforma de campanha por diversos candidatos no último pleito. O “bloco conservador” aumentou no congresso nacional, algo preocupante, pois se vê que este discurso vem ganhando espaço não só na sociedade, mas também no poder legislativo.

É tarefa prioritária dos movimentos sociais impedirem que esses sujeitos ganhem força na sociedade, disputando corações e mentes na defesa dos Direitos Humanos. Pois é muito fácil ser contra os Direitos Humanos, quando se passou a vida inteira desfrutando deles.

DIREITOS HUMANOS, SIM!

leia também:
http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/podcasts/838985-barbara-gancia-da-para-comemorar-combate-a-violencia-no-rio.shtml

Um comentário:

  1. A fala do Rodrigo vem de encontro com as denúncias feitas pela Folha de São Paulo na edição de quarta 1/12. Gostei muito do blog. Também tenho um blog http://rafaelvaetecaetano.blogspot.com

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