sábado, 20 de novembro de 2010

Consciência que deve vir de berço!

Será que a lei no 10.639 está realmente contribuindo para o fortalecimento da consciência negra entre as crianças, jovens e adultos nas instituições de ensino?


A leio 10.639 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.

Uma coisa é certa, sem aprendizado sobre a História e Cultura Afro-Brasileira, não há como criar uma consciência negra. Hoje,o dia da consciência negra é um data representativa no calendário brasileiro,no entanto, a maioria das pessoas- negras ou não- desconhece a sua importância.

Saiba + sobre O Dia da Consciência Negra

Nas escolas, pouco ainda é falado a respeito do passado histórico, da geografia do continente africano e dos grandes lideres negros que surgiram dentro e fora dele.

Aprendemos muito sobre Napoleão Bonaparte, e nada sobre Toussaint Louverture


Vemos então o eurocentrismo educacional, braqueando e anulando a possibilidade de diferentes processos educativos. (Trecho retirado do livro “Por uma educação que promova a auto-estima da criança negra” (1999) de Romão Jeruse)

Num debate entre amigos, poucos sabem sequer os nomes de alguns países africanos e qual é o idioma local.

Quando se fala de negros, não se costuma situá-los na diversidade cultural e étnica da África e dos países que receberam sua diáspora.

Há ainda os que se confundem ou desconhecem até mesmo o fato da África ser um continente. Tudo isso parece absurdo, mas é verdade!

O pior é que, geralmente, a capacidade da inteligência do aluno e questionada, mas as escola e práticas pedagógicas não.
Enquanto o verdadeiro problema está nas instituições de ensino. Há um enorme déficit na passagem de informação importantes na formação dos alunos.

Eu mesma tive as melhores aulas da minha vida sobre o continente africano na semana passada durante o IV Econtro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe, com a curadoria do cineasta Zózimo Bulbul.

Lá, o Dr. Iba Der Thiam, historiador, Vice-Presidente do Congresso Nacional do
Senegal, falou sobre a importância do panafricanismo e a contribuição do continente africano bem como da sua diáspora para o desenvolvimento da ciência e o progresso da humanidade.

Ele ressaltou que a África e a sua diáspora nunca foram completamente conquistadas, nem pacificadas, que nunca se submeteram, contrariamente ao que foi ensinado em escolas e universidades.

"É neste solo de África que as primeiras organizações sociais foram constituídas e que começou a desenvolver-se o gênio humano", sublinhou o vice- presidente da Assembleia Nacional do Senegal, recordando que os teoremas de Pitágoras e de Thales vieram do Egito faraônico.
Na antiguidade, o Egito tinha um avanço de cinco mil anos em relação ao resto do mundo. Como, depois de isto tudo, se pode dizer que África não entrou na história?", interrogou Iba.

Thiam fez menção à famosa frase pronunciada pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy em 26 de Julho de 2007 durante um discurso na universidade de Dakar na qual declarou que o homem africano não entrou suficientemente na História.

Só posso dizer que todas estas informações foram muito preciosas para mim.Elas me ajudaram a enxergar o continente africano e a diáspora sob uma nova ótica.
No entanto, é uma pena que um evento tão rico em informações tenha sido pouco reproduzido pela mídia.

Tenho absoluta certeza de que estas informações poderiam mudar pontos de vista de milhares de homens , mulheres e crianças negros que desconhecem o valor e o pioneirismo das conquistas de seus antepassados, cujas quais muitos tentaram apagar da história.

E é o déficit de informações sobre sua própria cultura que afetam diretamente na auto-estima da criança negra. Segundo o livro de Jeruse, uma criança que percebe que livros, cartazes, mídia ou outros recursos didáticos excluem o negro, tem grandes tendências a querer negar sua identidade.

A impossibilidade de se sentir completo, pleno, motiva o desprezo das possibilidades de enfrentar desafios tão necessários para aprender sobre si, o outro e o mundo...

É necessário buscar estimular esta criança para o auto-conhecimento. Deve se fazê-la superar a tendência de avaliá-la pela sua possível “vocação natural”, cristalizada na imagem de que os negros e negras posssam ser apenas jogadores de futebol, sambistas e empregados braçais e domésticos.


Algumas propostas para uma mudança significativa são:

*Incentivar a criança a apreciar a sua imagem, reforçar a beleza de sua cor, seu cabelo, a sua inteligência, as habilidades, aptidões, isto é, as coisas que sabe fazer e gosta...(Amma)
Não deve ser aceitável, por exemplo, que as escolas não ofereçam bonecas negras para que todas as crianças brinquem. Apesar de recursos didáticos como o vídeo e o computador terem sido introduzidos na escola, ainda não se busca difundir/atender às diversidades


*Colaborar para que a incorporação dos conhecimentos sobre afro-brasileiros na escola ultrapassem os tópicos especiais e/ ou comemorativos.
Afinal,falar sobre o índio somente no dia 19 de abril e sobre os afro-brasileiros no dia 13 de maio ou 20 de novembro, pouco contribui para que as crianças compreendam e seus vínculos com povos –em sua maioria- discriminados e escravizados.
Além disso, não ajuda na construção de um sentimento de orgulho pelas conquistas de seus antepassados e, consequentemente, não as fazem entender a importância desta causa que ,no presente, proporciona que ela tenha a oportunidade de construção de um futuro totalmente diferente.

A criança, ao perceber que sua história e cultura interagem na escola como conhecimento, sentirá que pertence àquele grupo.
Com isso, eliminiaria-se o efeito da incidência do racismo sob o desempenho do aluno e reduziría-se muito o indices da evasão escolar entre os alunos negros .


Em entrevista para oladonegrodamoda, uma educadora questiona crianças a respeito de temas como racismo , estética negativada, e ainda dificuldade de se assumir como afrodescendente.
Ouça os três depoimentos abaixo:
primNota de voz-00...




Note que,nesta primeira gravaçã(acima)o, há o refugio constante no termo “morena escura” para evitar o peso maior da palavra “negro”.





rafaelNota de voz-...


O jovem Rafael quer expressar o orgulho que deve-se ter pela cor de pele, mas ao mesmo tempo ele declara: “ somos descendentes de alguma coisa para a gente nascer assim, não é culpa da gente!”


bcaNota de voz-000...






Observa-se , neste caso a vontade da menina , que se declara como parda, de ser branca como a amiguinha que admira

As estratégias de combate ao racismo devem sobretudo compreender a busca e difusão de conhecimentos aprofundados sobre a história e a cultura dos negros desde a infância do individuo.


Devemos exigir a verdadeira aplicabilidade da lei 10.639 nas instituições de ensino.


Pais, antes de matricularem seus filhos façam esta verificação e se a instituição ainda não estiver cumprindo as normas dialogue e indique que isto deve ser feito ou denuncie:

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=17

Educadores passem este ensinamento adiante!

Livros muito interessantes podem ser encontrados na livraria Kitabu!

http://kitabulivraria.wordpress.com/

Que a força esteja com vocês!

Um comentário:

  1. Maravilhoso, Luana!

    Realmente, ao longo de nossa formação histórica do negro no Brasil se negou suas vivências, experiências e sua vida como pesssoa humana de uma forma em geral.

    Quando você mencionou a questão da Consciência Negra, lembrei do que nossa amiga Cleydinha, do blog viciadaembeleza.blogspot.com também aluna da PUC-Rio no curso de Engenharia de Computação comentou com a dona do salão que frequentava.

    A mesma "reclamou" com ela sobre o dia da Consciência Negra, pois esta disse que não concordava. Segundo Cleyde, ela a respondeu assim:

    " Mas a senhora não tem que concordar com nada, porque a senhora é branca. Qual o preconceito que sofreu? Nenhum? Eu como sou negra, sou plenamente a favor de um dia que valorize e estimule todo o processo de omissão e dor que o povo negro passou dentro e fora do Brasil".

    Beijos!

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