quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Clarear ou escurecer a pele? Vai de acordo com a conveniência da mídia.

Abaixo, fiz um ctrl+c, ctrl+v de uma matéria publicada na edição virtual da revista época nesta semana (27/12/2010)

Na Índia, a edição de dezembro da revista Elle traz na capa a atriz Aishwarya Rai Bachchan. Apesar de ser uma estrela de Bollywood, muitos indianos podem não ter reconhecido a ex-Miss Mundo na foto. Isso porque, na foto publicada por Elle, a pele da atriz está tão pálida quanto a de alguém com origem europeia. Os fãs de Aishwarya notaram o uso excessivo de Photoshop e acusam a Elle de racismo. Por acaso a atriz tem de ser “clareada” para estar na capa da revista?
Os editores negam a alteração intencional. Compare e tire suas conclusões.


Os jornais indianos afirmam que a primeira reação de Aishwarya foi não acreditar que a revista pudesse ter alterado a cor de sua pele. Mas, se ficar comprovado que houve intenção de fazê-lo, ela não descarta processar a publicação.
Se decidir ir à Justiça contra Elle, a atriz indiana vai poder citar pelo menos um outro possível caso de racismo, desta vez na edição americana da revista. Na edição de setembro, a publicação foi acusada de clarear a pele da atriz Gabourey Sidibe, indicada ao Oscar de melhor atriz pelo ótimo Precious. Os editores dizem que trataram as fotos de Gabourey como as de qualquer outra modelo, mas o site Jezebel não perdoou e incluiu a capa entre as piores falhas de Photoshop de 2010.



São raras as mulheres “não-brancas” na capa da maioria das revistas femininas. O que esses dois casos sugerem é que, quando elas aparecem na capa, “precisam” se encaixar nesse modelo “tradicional”, isto é, racista.

leia mais no link:
http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2010/12/27/revista-e-acusada-de-clarear-pele-de-atriz-indiana-na-capa/

No Brasil, o oposto da situação supracitada também é verificado. E muito raro ver capas de revistas e campanhas das grandes grifes que utilizem modelos negras. No entanto, é comum para oferecer uma suposta diversidade ao publico escurecer algumas atrizes/ modelos morenas ou mulatas para que se pareçam negras.
Assim "calaria-se" a boca de quem acha que so loiras são mostradas. Afinal ja ouvi da boca de muitos estilistas e fotografos que o empecilho para não colocar negras em evidencia como padrão de beleza ora são os cabelos rebeldes, ora os traçoes étnicos que destoarim dos "finos" traços europeus como o nariz "afilado".

Podemos questionar, por exemplo, o evidente escurecimento da pele da atriz Juliana Paes na campanha da Vivara de 2009. Nestas fotos vemos uma Juliana Paes muito mais escura que o normal. Visto a estranheza do publico com uma Juliana Paes tão negra, poderia ter sido usada, por exemplo, sem graves alterações de resultado uma outra modelo/ atriz negra ou mulata sem o uso de tanto photoshop.






Outros questionamentos podem surgir quando analisamos o perfil de algumas das tops negras brasileiras mais frequentes nas capas de revista de moda: Emanuela de Paula e Gracie Carvalho.
Estas negras possuem belezas evidentes, mas certamente os cabelos não tão crespos e os traços de rosto não tão étnicos assim....




Afinal, pouco se fala, mas nos castings é muito comum dar preferência a negras "com cara de branca", ou até mesmo, enegrecer brancas ou morenas para que sejam aproveitados seus traços "finos" e so a cor "brozeada" seja evidenciada, porém sem a utilização de negras de verdade.

E, depois de tantas questões, voltamos a mesma de sempre...
Pq tanta dificuldade do pais em lidar com a propria origem étnica diversificada?

So depende de nos mudar esta realidade...

Q a força esteja conosco! ;)

COMUNICADO IMPORTANTE: eu estava sem internet, mas finalmente tudo foi reestabelecido! Agora, tenho muitos emails para responder e muito trabalho a fazer. O primeiro deles foi  obviamente preparar este post - posssivelmente o ultimo do ano de 2010.

Aproveito aqui para agradecer a todos os meus colaboradores pelas sugestões, elogios,criticas e o apoio dado para a construção dOLADONEGRODAMODA! Este post foi uma sugestão da companheira Mariana.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Poucos negros nas passarelas. De quem é a culpa, afinal?

Estamos a menos de um mês da próxima semana de moda do Rio de Janeiro, o Fashion Rio acontecerá dos dias 11 a 15 de janeiro de 2011.. Os castings já começaram.
Já podemos começar a palpitar acerca da possível quantidade de negros que serão vistos na próxima temporada. Será que ainda assistiremos desfiles hegemonicamente brancos?
Ou haverá surpresas como o desfile de Walter Rodrigues, que em sua coleção de verão 2011 colocou 25 modelos negras na passarela?


Culpa é da estação?


O fashion Rio exibirá as tendências do inverno de 2011. As desculpas “esfarrapadas” dadas por muitos estilistas e agências que sempre ouvi nos backstages dos desfiles e nas entrevistas são as de que no inverno, negras não são usadas por uma questão de ambientação.


Isto quer dizer que, neste caso, haveria uma europeização das tendências lançadas e as peles brancas serviriam como um marcador para evocar o clima de inverno.
É como se o negro, pela sua cor de pele “sempre bronzeada” não servisse para simbolizar o “frio”.


Se aqueles que sustentam esta teoria seguissem esta lógica, no verão teríamos somente negras, mulatas e morenas como no desfile de Walter Rodrigues. No entanto, não é o que se vê.


Podemos pegar como exemplo uma grife que desfila exclusivamente no verão como a Salinas,(desfilou no 1º dia) por exemplo. Em seu último desfile ao apresentar as tendências do verão 2011, a grife por exemplo, usou modelos 21 modelos e só 4 negras Gracie Carvalho, Laís Ribeiro, Carmelita Mendes e Samira Carvalho.


Segundo o site chic,a marca de Jacqueline de Biase se inspirou nas semelhanças de Cuba com a Bahia. Terras cujos habitantes têm em comum a mesma origem africana. Daí o colorido, as flores e a sensualidade dos maiôs e biquínis.
http://chic.ig.com.br/moda/noticia/salinas-verao-2011



Se pensarmos bem,se o verão da marca fosse tão “africano” como é defendido. Certamente, pelo menos o desfile, a campanha ou os catálogos apresentados pela Salinas usariam morenas ou negras,e não somente loiras. Não acham?
No entanto, a realidade é bem diferente...
Confira:
http://www.salinascompras.com.br/



Seria culpa do poder aquisitivo?


Outra desculpa muito utilizada uma tendência social. Lança-se a culpa da falta de negros nas passarelas e revistas à falta de poder aquisitivo da população negra. Assim, a moda não seria obrigada a refletir a população do país, mas sim somente personagens que se pareçam com o público com o poder de compra suficiente para consumir produtos de luxo, ou seja, os brancos.


Culpa do corpo?
Para a historiadora Mary Del Priori, a discussão maquia outras questões mais profundas. "A ausência de negros na moda é mais uma exigência de classe do que uma questão de beleza", afirmou. Ela lembra que o debate é recente, vem do final dos anos 1980, quando ações afirmativas foram feitas em várias áreas e foram responsáveis pela valorização da autoestima dos negros. Mas ressalta que encontra diferente cenário no Brasil. "Esse debate está truncado numa outra realidade histórica. Não temos um grupo de negros como os Estados Unidos. Enquanto receberam 500 mil escravos africanos, recebemos 7 milhões. Além disso foram se mestiçando. Do ponto de vista histórico, é um paradoxo, um discurso que valoriza minoria sendo que no Brasil os negros são maioria", disse.


E o mundo da moda reflete esse padrão. "Não é ideológico, é a importação de um modelo que não nos pertence e que foi apresentado pelas elites, que é quem consome moda. A questão é a valorização de um único tipo de corpo." A historiadora lembra que a valorização da mulher curvilínea faz parte da cultura brasileira e foi homenageada na música, pintura, poesia e literatura.

"O corpo passou a ser uma questão de classe social”."E a negra pelo biótipo do corpo, mais curvilínea, acaba se incompatibilizando com esse universo, a não ser que seja esquálida. Pois a Barbie não tem bunda."


Estilistas , agências, bookers ou seja quem for que esteja lucrando em manter esta disparidade racial nas passarelas nunca vão assumir a própria culpa vão e sempre formular discursos e sempre se aproveitar / ampliar um dado social ou característica para manter o segregacionismo na moda e associar isto à superioridade desta manifestação artística.
Oladonegrodamoda acredita ,na moda não segregacionista,que a beleza da moda, uma manifestação artística extremamente criativa, emerge exatamente quando inclui e mistura todas as cores seja nos tecidos ou nas raças que desfilam.


Cabe a nós, defensores desta tese inclusiva nos manifestarmos. Enviando emails para revistas; fazendo reportagens nos eventos de moda e organizando discussões para dar a moda este novo significado.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A positivização da imagem do negro na sociedade e as ações afirmativas

Na semana passada, participei de um debate sobre ações afirmativas. Lá,eu e alguns colegas de diferentes perfis raciais e sociais, analisamos e nos identificamos muito com o posicionamento sobre o assunto de Marcelo Henrique Romano Tragtenberg,doutor e professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Analise você também e opine.
Um olhar de branco sobre ações afirmativas
 

Tudo começou com um período que passei na Inglaterra, de março de 1999 a fevereiro de 2001. Lá o negro é majoritariamente o paquistanês e o indiano.
 A componente africana da população é bem menor (infelizmente não tenho dados estatísticos para corroborar essa impressão, mas deve ser fácil obtê-los). Havia na BBC (tv estatal inglesa) uma preocupação evidente em ter dois âncoras nos jornais, sempre um deles era negro e mulher (a combinação era homem branco/mulher negra, homem negro/mulher branca).
Nos programas de debates, também se expressava a diversidade étnica, colocando entrevistadores negros, mesmo quando o programa tinha só um entrevistador. Numa das novelas, havia um diretor de escola negro que vivia um romance com uma professora loira. O que é notável é o fato do negro estar em posição proeminente dentro hierarquia escolar.
 Isto reflete o fato da Inglaterra conviver bem com a diversidade étnica? Não. Havia cerca de um assassinato por preconceito por mês, noticiado na mídia inglesa. Soube de um assassinato por racismo a 200 m de minha casa. O que há é uma consciência social da importância de valorizar a diversidade cultural e de enfrentar o racismo de frente. Não é como no Brasil, como lembra o saudoso Florestan Fernandes, onde “o brasileiro tem preconceito de ter preconceito” (in “Ação Afirmativa e Democracia Racial”, de Sandro César Sell, Fundação Boiteux, 2002). Lá, a questão étnica é assumida. Lá, há bonecas negras. É fácil achar uma no Brasil, que tem 45% de negros (5% de pretos e 40% de pardos segundo o PNAD/IBGE de 1999)?
De volta ao Brasil, um país aparentemente sem racismo, me deparei com comerciais alegres do Guaraná Antarctica. Só havia brancos, servindo e bebendo. No comercial seguinte, do mesmo produto, aparecem negros, mas só servindo e brancos só consumindo.Os negros raramente são postos como protagonistas, no máximo como coadjuvantes. No comercial da cerveja Schincariol, a música é “moro num país tropical” de Jorge Benjor, um negro, mas a maioria esmagadora das pessoas é branca. Será que isto reflete o lugar reservado ao negro no Brasil? Nos telejornais da noite, cadê os negros como âncoras? As mulheres já começam a aparecer, mas a barreira contra negros parece intransponível. No entanto, de um ano para cá, verifica-se um aumento do número de repórteres negros nos telejornais.
Certamente, antes de ir para a Inglaterra, não me sentiria incomodado com o que relatei no parágrafo acima. Meu olhar era de branco, educado numa sociedade com racismo cordial, com minha percepção contaminada por essa forma sutil de racismo. Pouco depois de voltar ao Brasil (fevereiro/2001), deu-se a Conferência da ONU contra o racismo em Durban (setembro/2001), África do Sul, à qual a delegação brasileira levou propostas avançadas para lidar com os efeitos do racismo no Brasil, entre elas a de criação de cotas para negros entrarem nas Universidades públicas.
O movimento dos negros pelo fim da segregação racial nos EUA, nas décadas de 1950 e 1960, popularizarou um conceito jurídico original: o da ação afirmativa ou discriminação positiva. Este é modo de reparar injustiças sociais é hoje bastante disseminado no mundo.
Atualmente, na sociedade brasileira, têm-se a percepção de que o negro só pode ascender socialmente através do esporte e da arte. Portanto, os modelos para os negros provavelmente vêm desses dois tipos de atividades. Pesquisas mostram em alguns casos que “quando, numa população o número de modelos sociais e econômicos (pessoas que sejam pelo menos de “classe média”) chega a uma proporção muito baixa (algo em torno de 5%), a violência, o consumo de drogas, o abandono escolar e a gravidez na adolescência crescem explosivamente” (Sell, op.cit., há outras pesquisas no mesmo sentido comentadas nesta obra). Portanto, privar os negros brasileiros da esperança de conquistar um lugar ao sol também tende a mantê-los na situação marginal em que se encontram.
Ações afirmativas não vão resolver o problema do racismo cordial brasileiro, mas no mínimo vão chamar a atenção dos brasileiros para ele e provavelmente minorá-lo. Somente uma melhora sensível nos níveis de emprego, na distribuição de renda e nas políticas sociais poderá contribuir de forma permanente para a melhoria do padrão de vida dos brasileiros, particularmente os negros.

Este texto foi adaptado. Leia o texto na íntegra: