terça-feira, 30 de novembro de 2010

Não a limpeza étnica! Sim aos direitos humanos!


Faço minhas as palavras abaixo do  diretor de Direitos Humanos da UNE, Rodrigo Mondego.

Durante a última semana observamos a grande onda de violência e ataques contra veículos no Rio de Janeiro, estes que desencadearam a invasão e tomada das comunidades do Complexo da Penha e Complexo do Alemão. A operação contou com a participação da polícia civil, militar, federal e forças armadas, sob o intuito de: “Retomar aquele território de volta para o Estado” assim como o governador Sergio Cabral definiu.

Para conquistar o grande objetivo da operação, as forças do Estado não mediram esforços e simplesmente ignoraram alguns direitos básicos garantidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e nossa Constituição Federal. Podemos citar:

- Muitos suspeitos que foram detidos não tiveram, até o momento contato com nenhum advogado ou defensor público. Sendo que o critério que torna o cidadão suspeito, varia entre o fato de se ter passagem na polícia ou possuir porte ilegal de armas, além do fator étnico e etário.

(Vale lembrar que enquanto todas essas execuções acontecem, crianças estão há dias sem aula e que isto cria uma enorme e preocupante margem de susceptibilidade destas para entrar para o tráfico).

-Centenas casas foram invadidas e reviradas sem nenhum mandado emitido pela justiça. Imaginem se 30 mil residências da Zona Sul teriam o mesmo aval da sociedade para ser invadidas sem mandados?

-Algumas mortes de suspeitos têm indícios de execução sumária.

Mesmo com todas essas violações o desfecho poderia ter sido ainda pior, se seguisse à lógica da ocupação do complexo do alemão em 2007, onde todas as mortes tinham indícios de execuções sumárias feitas por agentes do Estado. É público e notório a insatisfação de setores da sociedade com o desfecho da ocupação do complexo do alemão agora em 2010. O fato de ter ocorrido “apenas” cerca de 50 mortes, desde o inicio dos conflitos vividos durante esta última semana, frustrou quem queria ver ainda mais carnificina ao vivo na TV, divulgado principalmente por programas de caráter sensacionalistas e sem nenhuma preocupação ética para com a sociedade.

O discurso anti-Direitos Humanos esta sendo visto abertamente. Nas ruas, nas redes sociais e na mídia, ouvimos coisas como:

“Direitos Humanos para Humanos Direitos.”

“Direitos Humanos só serve pra bandido”

“Morte aos bandidos.”

“Tem que subir o morro passando o cerol em todo mundo.”

“Esses ai não tem jeito, era a oportunidade de livrar a sociedade dessa vagabundagem para sempre.”

Estas invasões e represálias das forças armadas nas comunidades não passam de uma varredura da poeira para debaixo do tapete. Enquanto não houver  um trabalho funcional de inclusão social dos grupos considerados marginalizados não haverá paz!

Esse discurso, que para nós do movimento social é inaceitável, vem ganhando eco na sociedade e ainda mais adeptos. Nos últimos anos os Direitos Humanos sofrem ataques sistemáticos da grande mídia. O lançamento do 3° Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH-3) agravou ainda mais isso, um grande “bloco reacionário” da sociedade ( composto pela igreja, ruralistas, grande mídia, militares ... ) começou a agir de maneira uniforme para atacar o programa.
Apesar da recente vitória vivida pela esquerda na última eleição presidencial, o conservadorismo avançou como nunca no último período.

O discurso homofóbico, xenófobo (contra os nordestinos) e machista, foi usado como plataforma de campanha por diversos candidatos no último pleito. O “bloco conservador” aumentou no congresso nacional, algo preocupante, pois se vê que este discurso vem ganhando espaço não só na sociedade, mas também no poder legislativo.

É tarefa prioritária dos movimentos sociais impedirem que esses sujeitos ganhem força na sociedade, disputando corações e mentes na defesa dos Direitos Humanos. Pois é muito fácil ser contra os Direitos Humanos, quando se passou a vida inteira desfrutando deles.

DIREITOS HUMANOS, SIM!

leia também:
http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/podcasts/838985-barbara-gancia-da-para-comemorar-combate-a-violencia-no-rio.shtml

domingo, 28 de novembro de 2010

Yes, we can!


GOVERNO DOS EUA LANÇA EDITAL PARA FINANCIAR PROJETOS SOCIAIS DE PROMOÇÃO DE IGUALDADE RACIAL NO BRASIL



O Governo dos Estados Unidos, em parceria com a BrazilFoundation, e com apoio do Governo do Brasil através da SEPPIR, lança amanhã (segunda-feira, 29 de novembro), às 13h, no Consulado Geral dos EUA do Rio, o edital para a seleção de projetos sociais que serão apoiados pelo Plano de Ação Conjunto Brasil – Estados Unidos para a Promoção da Igualdade Racial e  Étnica – JAPER. Cada projeto selecionado, que deverá ter duração de um ano, receberá financiamento de até R$ 25 mil do Governo dos EUA.
A seleção de projetos sociais é aberta a organizações da sociedade civil brasileira, sem fins lucrativos, com foco na promoção da igualdade racial e étnica, através da educação e da cultura. Três áreas principais serão contempladas: a educação voltada à inclusão racial, o acesso à justiça e a promoção da equidade étnica e racial na mídia.  uhuuuuuuuuuuullll
O lançamento do edital contará com a presença do Cônsul Geral dos EUA no Rio de Janeiro, Dennis Hearne, da Conselheira para Assuntos de Imprensa, Educação e Cultura da Embaixada dos EUA em Brasília, Adele Ruppe e de representante da Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (SEPPIR).
Os projetos deverão ser encaminhados ao escritório da BrazilFoundation no Rio de Janeiro, organização parceira e responsável pelos processos de seleção e monitoramento dos projetos que serão apoiados. A data de postagem no correio será considerada como comprovante. A divulgação dos projetos pré-selecionados será feita pela BrazilFoundation em seu site, em 11 de abril de 2011. 
O Plano de Ação Conjunto Brasil-Estados Unidos – JAPER, assinado em março de 2008, tem compromisso com a colaboração profunda e contínua entre os dois governos, a fim de eliminar a discriminação racial e étnica e promover a igualdade de oportunidades em ambos os países.

Após a apresentação do edital, o Cônsul Geral dos EUA no Rio de Janeiro, Dennis Hearne, e a Conselheira para Assuntos de Imprensa, Educação e Cultura da Embaixada dos EUA em Brasília, Adele Ruppe, estarão disponíveis para responder às perguntas da imprensa.

SERVIÇO:
O que: 
Lançamento do edital para seleção de projetos sociais a serem apoiados pelo Plano de Ação Conjunto Brasil – Estados Unidos para a Promoção da Igualdade Racial e  Étnica – JAPER.
Quando: Segunda-feira, 29 de dezembro de 2010, às 13h
Onde: Consulado Geral dos EUA no Rio de Janeiro – Av. Presidente Wilson, 147, Centro – Rio de Janeiro

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

UNITED COLOR OF BENETTON - A Abordagem sobre o racismo

Em suas campanhas durante os anos 90, a proposta da Empresa Benetton , pode se dizer,  foi de abranger as tematicas sociais que permeavam o contexto social da época.  Porém a forma como foi feita, causou grandes polêmicas. Afinal, as suas fotografias exibiam uma realidade que chocava, e que normalmente não era posta nas propagandas de lojas de roupas.

Em 1991/92 -no contexto do fim do apartheid sul-africano -  a Benetton lançou a imagem Anjo e Diabo , contendo duas meninas, uma negra e outra branca, se abraçando.



Em primeiridade podemos ver num plano próximo duas crianças de aproximadamente 4 anos sorrindo e se abraçando.

Já em secundidade percebemos a imagem de um anjo (garota branca e loura) e do diabo
(garota negra). Isto fica mais evidente devido aos formatos dos penteados das meninas: a garota branca tem cachos que lembram uma figura angelical e a menina negra tem duas ondulações que lembram chifres da figura diabólica. Tal imagem retrata a positivização da cor de pele branca e a negativização do negro segundo o ponto de vista da própria sociedade que hipocritamente jamais havia tocado de maneira extravagante neste ponto.

Em terceiridade podemos refletir sobre as forças antagônicas do bem e do mal, presentes
nas figuras do anjo e do diabo. É a junção de forças contra o racismo no mundo.

Segundo Jorge Veríssimo, 2001, o racismo corresponde a um princípio de inferiorização de um grupo. Neste caso, o grupo “vitima” dispõe de um lugar na sociedade na condição de se dedicar a tarefas mais árduas, penosas e arriscadas, e de não se tornar muito visível nos lugares públicos. E também o racismo não concede qualquer lugar ou função ao grupo racial considerado inferior, manifestando-se através de uma vontade de rejeição, de colocação desse grupo a distancia, enfim de exclusão.

Este tema tem grande expressão na comunicação publicitária da empresa, não só em
numero de imagens, mas também em termos de uma continua presença ao longo dos anos.
As crianças e os jovens são quem mais sentem e sofrem com a segregação e a indiferença, problemas que não deixam ninguém indiferente. Entendemos que os responsáveis da Benetton dedicaram a este tema algumas imagens das suas campanhas.

Além da peça publicitária Anjo e Diabo , uma outra peça publicitária que teve ampla repercussão aqui no Brasil, mostra-nos uma mulher negra amamentando um bebê branco.



Segundo Toscani, os fascistas tinham compreendido muito bem a força da propaganda, eles a praticavam de uma maneira bastante publicitária, como os nazistas, mostrando o chefe sorridente , as multidões extasiadas, as crianças exaltadas.

No entanto, com o passar do tempo, o papo de que “A publicidade vende felicidade” repetida por todos os grandes pensadores da comunicação adquire um tom monotono e sem graça.
Então Toscani adotou um tom polêmico - na abordagem de questões sociais complexas como a do racismo - para atrair a atenção do publico. Observa-se o uso do sistema publicitario contra a ideologia de seus criadores.

Várias são as fotos de Toscani envolvendo brancos e negros, as oposições e os contrastes, a quebra da monotonia da cor combinada, seqüencial, em que seus recursos estilísticos proporcionam o “choque” não só pelo contraste como pela intenção de abalar as estruturas sociais e as comunicacionais erguidas sob preconceitos e tabus.



Adaptado do trabalho de conclusão do curso de publicidade Benetton: Polêmica ou Sedução ? de Maria Vitória Araújo Carneiro, Vera Lúcia da Silva Fernandes,Mikele Morais Miccione



Atualmente, em suas campanhas a Beneton adotou um tom bem mas moderado, deixando de lado as polêmicas. A marca ainda aposta na diversidade étnica e nas tonalidades coloridas para atrair atenção do publico.

sábado, 20 de novembro de 2010

Consciência que deve vir de berço!

Será que a lei no 10.639 está realmente contribuindo para o fortalecimento da consciência negra entre as crianças, jovens e adultos nas instituições de ensino?


A leio 10.639 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.

Uma coisa é certa, sem aprendizado sobre a História e Cultura Afro-Brasileira, não há como criar uma consciência negra. Hoje,o dia da consciência negra é um data representativa no calendário brasileiro,no entanto, a maioria das pessoas- negras ou não- desconhece a sua importância.

Saiba + sobre O Dia da Consciência Negra

Nas escolas, pouco ainda é falado a respeito do passado histórico, da geografia do continente africano e dos grandes lideres negros que surgiram dentro e fora dele.

Aprendemos muito sobre Napoleão Bonaparte, e nada sobre Toussaint Louverture


Vemos então o eurocentrismo educacional, braqueando e anulando a possibilidade de diferentes processos educativos. (Trecho retirado do livro “Por uma educação que promova a auto-estima da criança negra” (1999) de Romão Jeruse)

Num debate entre amigos, poucos sabem sequer os nomes de alguns países africanos e qual é o idioma local.

Quando se fala de negros, não se costuma situá-los na diversidade cultural e étnica da África e dos países que receberam sua diáspora.

Há ainda os que se confundem ou desconhecem até mesmo o fato da África ser um continente. Tudo isso parece absurdo, mas é verdade!

O pior é que, geralmente, a capacidade da inteligência do aluno e questionada, mas as escola e práticas pedagógicas não.
Enquanto o verdadeiro problema está nas instituições de ensino. Há um enorme déficit na passagem de informação importantes na formação dos alunos.

Eu mesma tive as melhores aulas da minha vida sobre o continente africano na semana passada durante o IV Econtro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe, com a curadoria do cineasta Zózimo Bulbul.

Lá, o Dr. Iba Der Thiam, historiador, Vice-Presidente do Congresso Nacional do
Senegal, falou sobre a importância do panafricanismo e a contribuição do continente africano bem como da sua diáspora para o desenvolvimento da ciência e o progresso da humanidade.

Ele ressaltou que a África e a sua diáspora nunca foram completamente conquistadas, nem pacificadas, que nunca se submeteram, contrariamente ao que foi ensinado em escolas e universidades.

"É neste solo de África que as primeiras organizações sociais foram constituídas e que começou a desenvolver-se o gênio humano", sublinhou o vice- presidente da Assembleia Nacional do Senegal, recordando que os teoremas de Pitágoras e de Thales vieram do Egito faraônico.
Na antiguidade, o Egito tinha um avanço de cinco mil anos em relação ao resto do mundo. Como, depois de isto tudo, se pode dizer que África não entrou na história?", interrogou Iba.

Thiam fez menção à famosa frase pronunciada pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy em 26 de Julho de 2007 durante um discurso na universidade de Dakar na qual declarou que o homem africano não entrou suficientemente na História.

Só posso dizer que todas estas informações foram muito preciosas para mim.Elas me ajudaram a enxergar o continente africano e a diáspora sob uma nova ótica.
No entanto, é uma pena que um evento tão rico em informações tenha sido pouco reproduzido pela mídia.

Tenho absoluta certeza de que estas informações poderiam mudar pontos de vista de milhares de homens , mulheres e crianças negros que desconhecem o valor e o pioneirismo das conquistas de seus antepassados, cujas quais muitos tentaram apagar da história.

E é o déficit de informações sobre sua própria cultura que afetam diretamente na auto-estima da criança negra. Segundo o livro de Jeruse, uma criança que percebe que livros, cartazes, mídia ou outros recursos didáticos excluem o negro, tem grandes tendências a querer negar sua identidade.

A impossibilidade de se sentir completo, pleno, motiva o desprezo das possibilidades de enfrentar desafios tão necessários para aprender sobre si, o outro e o mundo...

É necessário buscar estimular esta criança para o auto-conhecimento. Deve se fazê-la superar a tendência de avaliá-la pela sua possível “vocação natural”, cristalizada na imagem de que os negros e negras posssam ser apenas jogadores de futebol, sambistas e empregados braçais e domésticos.


Algumas propostas para uma mudança significativa são:

*Incentivar a criança a apreciar a sua imagem, reforçar a beleza de sua cor, seu cabelo, a sua inteligência, as habilidades, aptidões, isto é, as coisas que sabe fazer e gosta...(Amma)
Não deve ser aceitável, por exemplo, que as escolas não ofereçam bonecas negras para que todas as crianças brinquem. Apesar de recursos didáticos como o vídeo e o computador terem sido introduzidos na escola, ainda não se busca difundir/atender às diversidades


*Colaborar para que a incorporação dos conhecimentos sobre afro-brasileiros na escola ultrapassem os tópicos especiais e/ ou comemorativos.
Afinal,falar sobre o índio somente no dia 19 de abril e sobre os afro-brasileiros no dia 13 de maio ou 20 de novembro, pouco contribui para que as crianças compreendam e seus vínculos com povos –em sua maioria- discriminados e escravizados.
Além disso, não ajuda na construção de um sentimento de orgulho pelas conquistas de seus antepassados e, consequentemente, não as fazem entender a importância desta causa que ,no presente, proporciona que ela tenha a oportunidade de construção de um futuro totalmente diferente.

A criança, ao perceber que sua história e cultura interagem na escola como conhecimento, sentirá que pertence àquele grupo.
Com isso, eliminiaria-se o efeito da incidência do racismo sob o desempenho do aluno e reduziría-se muito o indices da evasão escolar entre os alunos negros .


Em entrevista para oladonegrodamoda, uma educadora questiona crianças a respeito de temas como racismo , estética negativada, e ainda dificuldade de se assumir como afrodescendente.
Ouça os três depoimentos abaixo:
primNota de voz-00...




Note que,nesta primeira gravaçã(acima)o, há o refugio constante no termo “morena escura” para evitar o peso maior da palavra “negro”.





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O jovem Rafael quer expressar o orgulho que deve-se ter pela cor de pele, mas ao mesmo tempo ele declara: “ somos descendentes de alguma coisa para a gente nascer assim, não é culpa da gente!”


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Observa-se , neste caso a vontade da menina , que se declara como parda, de ser branca como a amiguinha que admira

As estratégias de combate ao racismo devem sobretudo compreender a busca e difusão de conhecimentos aprofundados sobre a história e a cultura dos negros desde a infância do individuo.


Devemos exigir a verdadeira aplicabilidade da lei 10.639 nas instituições de ensino.


Pais, antes de matricularem seus filhos façam esta verificação e se a instituição ainda não estiver cumprindo as normas dialogue e indique que isto deve ser feito ou denuncie:

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=17

Educadores passem este ensinamento adiante!

Livros muito interessantes podem ser encontrados na livraria Kitabu!

http://kitabulivraria.wordpress.com/

Que a força esteja com vocês!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Clichê "global": A construção negativada da imagem da mulata.

“Olha Mangueira aí, gente”

Indignadíssima, foi como eu fiquei ao ouvir este bordão e assistir o episódio de “As Cariocas” desta terça-feira (16).


Neste, a atriz  Cíntia Rosa é Gleicy, A Internauta da Mangueira
Para começar,uma minissérie que é intitulada como “As Cariocas" ,  apresenta dez mulheres e apenas uma mulher negra!
Tudo a ver com a realidade do Rio de Janeiro, não acham?

E é justamente a negra que interpreta a única moradora de uma favela.
Será que ainda veremos sofisticadas “Helenas" na tv?

A personagem Gleicy, segundo descrições feitas em matéria publicada no site Terra, foi nascida e criada na Mangueira, ela trabalha em casa digitando teses e monografias, e, por conta disso, passa horas navegando na internet. Só que o tempo na rede nem sempre é dedicado ao trabalho. "Ela gosta de se mostrar na internet. Isso gera todo o conflito da história",

E põe conflito nisso! Temos mais uma vez a imagem da mulata libertina: “Ela, ao mesmo tempo é aquela dona de casa, que cuida do marido Armando (Eduardo Moscovis),  mas, por dentro, tem aquele gingado especial da mulata.” (site terra) E é com este gingado especial de mulata que ela deixa os homens loucos ao se mostrar seminua via webcam enquanto o marido está fora de casa ou dormindo.

Não é inquietante que, em plena semana da consciência negra, um clichê da mulher negra seja mais uma vez oferecido ao espectador?

Para incrementar, o marido de Gleicy é um flamenguista doente. O que na minha opinião, pode ser visto como mais um clichê relacionado a favela. Assim, para completar o chavão, só faltou colocar na personagem o nome de Teresa...

Para quem não se lembra da música do Jorge Ben:

“Sou flamengo e tenho uma nega chamada Tereza...”

Enfim, o marido descobre com a ajuda de um detetive, a traição virtual da mulher. Ele a leva para o jogo do Flamengo na final do campeonato brasileiro, onde, no meio da torcida, ele resolve ameaça-la com uma arma.

Ela chega até a ficar com medo, mas após a vitória do time, o marido fica tão feliz que esquece a traição.

Submissa, Gleicy também se esquece das violentas ameaças feitas pelo marido e volta para casa para fazer amor com ele.

Nada mais romântico do que ser ameaçada de morte pelo marido, e depois deitar-se com ele como se nada estivesse acontecido!

A personagem Gleicy pode ainda ser vista como "mulata profissional". Este termo é utilizado no artigo de  Sônia Giacomini: “ Mulatas profissionais: raça, gênero e ocupação”.O termo "mulata profissional" representaria que a cor da mulata  lhe agregaria necessariamente certos atributos físicos e até mesmo morais.

Numa analogia bem simples é como se para ser cozinheiro é preciso saber cozinhar, para ser mulata é preciso saber sambar.

Abaixo o link e um trecho do artigo:



a mulata profissional deve, antes de mais nada, ser portadora desses atributos como saber sambar; ter bundinha empinadinha , dentre outros(...) Deve não apenas ter o tipo físico, mas portar-se de modo a evocar essas imagens. Isso se dá, em particular, numa forma de interação com o público: ela tem de seduzir seu público. Sua capacidade de sedução, em última instância, constitui a prova de sua efetiva capacitação profissional.

Enquanto lutamos a favor da desconstrução desta imagem clichê. A rede globo nos faz o “favor” de fomentá-la.

Está na hora de enviarmos emails reclamando para a dona rede globo por uma imagem da mulher negra não limitada a clichês de favelada, a sambista, a empregada dentre outros...



A bela Cíntia, de 30 anos, foi a única protagonista do elenco escolhida por testes.  Em declaração ao site terra, ela disse que foi constrangedor gravar cenas de 'As Cariocas'. No Entanto, considera este como seu primeiro papel de maior repercussão na TV.



A atriz já atuou em Cidade dos Homens, 5X Favela - Agora por Nós Mesmos, dentre outros.

Na moda, modelos negros muitas vezes são usados somente em desfiles denominados étnicos. No teatro, cinema e tv atores e atrizes negras são vinculados a papéis   como moradores de favela.

Lembre-se que a limitação da representação do negro como personagens inferiorizados não é retratação de uma realidade. É, sobretudo, um mecanismo frequentemente utilizado para a manutenção da mesma!

Vamos lutar para que Cíntia e outros artistas e modelo, na passarela ou na tv, mostrem o seu talento em muitos outros papéis desvencilhados de clichês . Vamos costruir uma nova imagem do negro na mídia!

Só depende de nós!


PS:A história de Gleicy foi criada especialmente para a série e não retirada do livro de Sérgio Porto que dá nome à produção.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Por que só cabelo liso é "cabelo de estrela"?



 
Passando em frente a um ponto de ônibus na Zona Oeste,aqui do RJ, fotografei um anuncio. Ele vende serviços para deixar a mulher com o cabelo liso.

Note que na foto , a moça com cabelo crespo aparenta estar triste, e ao alisar seu cabelo se alegra...

Nas capas de revista, nos programas de televisão, nas passarelas, desfilam as mulheres mais “belas” do país. Os padrões estéticos atuais determinam o que uma mulher precisa para ser bonita e estampam nas revistas de moda os exemplos a serem seguidos. 

Em geral, estes padrões afirmam a positivização do cabelo impecavelmente liso para quem quer ser bonita. E, assim, o cabelo liso acaba se tornando, para muitas, uma obssessao. 

Mas por que isso ? Por que é tão difícil se aceitar?
Por que cabelo crespo/cacheado tem que ser qualificado como ruim?
Será por que ainda contamos com poucos serviços a favor do cabelo crespo? Poucos profissionais que se dizem qualificados, mas que só sabem alisar cabelos? Ou ainda há pouca disposição dos profissionais para aprender novos técnicas e penteados para cabelos crespos?
Quantas vezes nos desfiles que fiz, acabei eu mesma tendo que pentear meu cabelo porque os profissionais renomados simplesmente não sabiam o que fazer... 
Fazer escova freqüentemente num cabelo crespo o danifica demais!  


Acredito que o cabelo liso deveria ser só uma opção de penteado e não uma submissão estética!.

 Na verdade só depende de nós a positivação do que é considerado por muitos como "ruim". Se nós mudarmos este paradigma, o que é por muitos considerado "ruim" pode ser tornar bom...

Mas como?
·         Buscando não se render só a escova.
·         Procurando profissionais especializados.
·         Enviando email para as revistas para pedir por mais dicas de beleza para peles negras- de verdade. Não vale colocar a Juliana Paes e dizer que é dica de beleza negra, não é?
·         Uma outra boa dica e se utilizar dos fóruns na internet para discutir e obter dicas acerca de novos salões, técnicas e penteados.
Eu mesma aconselho as dicas de beleza da parceira Fernnandah

E o blog do projeto Pixaim:

 Aliás,achei uma entrevista super interessante que encontrei sobre o Projeto Pixaim no site:
Eu Ctrl+C,Ctrl+V um pedacinho. Veja:

O Projeto Pixaim, realizado pela sede mato-grossense da Central Única das Favelas – CUFA –, trabalha justamente com o questionamento dos padrões de beleza atuais, incentivando a aceitação do cabelo das mulheres negras. A CUFA é uma organização reconhecida internacionalmente, presente em todos estados brasileiros e em alguns países latino-americanos e europeus. A entidade visa desenvolver ações sociais para integrar a população da periferia, em sua maioria formada por pessoas negras. Em entrevista ao Jornal Comunicação, a coordenadora de projetos da CUFA-MT, Neusa Baptista, fala sobre o Pixaim.

Jornal Comunicação: Qual é o padrão de beleza atual e de que forma ele fomenta o preconceito?
Neusa Baptista: No Brasil, as classificações de raça passam pela cor da pele e pela textura do cabelo. É a aparência, e não a origem, que conta. Embora mais da metade da população se declare negra, ainda não vemos o negro como padrão de beleza. Xuxa, Gisele Bundchen, Angelina Jolie e outras beldades brancas são sempre lembradas quando se fala de modelos de beleza. Nas passarelas, as brancas se destacam, assim como nas revistas de moda e até mesmo entre as bonecas infantis. Embora hoje já se discuta uma volta ao padrão natural de beleza (algumas celebridades estão preferindo serem fotografadas ao natural e está em discussão uma lei que obriga as agências de publicidade a informarem o leitor quando for utilizado o Photoshop nas fotografias), ainda há um padrão de beleza e ele é o branco. Com certeza, esse padrão alimenta o preconceito contra todos que estão fora dele; para os homens e mulheres negros, alimenta ainda o preconceito racial, uma vez que a estética negra não está contemplada como modelo de beleza.


Comunicação: Qual a importância em discutir a aceitação do cabelo "pixaim"?
Neusa: O cabelo crespo é uma das marcas da estética negra e, ao lado da cor da pele, está no topo dos itens utilizados para classificar uma pessoa como negra ou outras gradações de cor (morena, chocolate, mulata etc). Para responder ao apelo estético pelo padrão branco – o cabelo liso – muitas mulheres negras agridem seu corpo com o uso de fórmulas de alisamento à base de produtos cáusticos, que degradam o cabelo e o couro cabeludo, e agem negativamente sobre a auto imagem da mulher. O cabelo liso ainda é o ideal de muitas negras, e o crespo é visto como ‘problemático’, ‘ruim’, ‘inadequado’, necessitando de algum tipo de modificação para ser aceito socialmente. A importância está justamente em contrapor este tipo de pensamento, trazendo para as mulheres opções que valorizem o cabelo e a cultura negra.
Assumir a identidade é importante em qualquer situação. Acho que não dá para ser feliz sem isso! Para as mulheres negras, usar uma trança muitas vezes é parte disso. Mas eu sempre digo que é um processo demorado, às vezes leva a vida toda. Pois a cada vez que se assume essa identidade afro, tem que lidar com uma carga maior de preconceito.

Comunicação: Você acha que o projeto faz os participantes mudarem suas concepções e questionarem os valores estéticos hegemônicos?
Neusa: É o que esperamos que aconteça. Mudar concepções é um desafio, e depende muito da própria pessoa. O que estimulamos é que pelo menos se crie o questionamento destes padrões. Aí, haverá espaço para mudanças.
Nós da CUFA sentimos que conseguimos transmitir a estas mulheres algumas questões, tais como: existe mesmo padrão de beleza? Qual é ele? Em que eu me enquadro? Quais as dificuldades para quem não se enquadra? Por que a estética negra não é valorizada? Elas percebem que as oficinas do Projeto Pixaim não são como as outras, têm um quê a mais, tanto no conteúdo como na forma, pois valorizamos o saber que a mulher traz, tudo é ensinado na base do bate-papo, da informalidade. Acho que isso as atrai e as estimula.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Essa não podia passar em branco, Sr Guerlain!

No dia 15 de Outubro, em entrevista a um telejornal francês que seria como o nosso Jornal Hoje –na hora do almoço , o perfumista Jean-Paul Guerlain declarou sobre o esforço empregado para a criação de sua nova fragrância: “Por uma vez, trabalhei como um escravo negro. Não sei se alguma vez os negros trabalharam tanto assim, mas enfim...”




Eu gostaria de pergunta- lo: O Sr ainda não saiu da era colonial, Sr Guerlain? O Sr ,um célebre parfumista que deveria no mínimo respeitar o sem distinção o público que compra seus produtos, graças as suas convicções ultrapassadas, faz declarações racistas em pleno horário nobre e se acha engraçado?
Uma resposta, uma intervenção, qualquer coisa.. era o mínimo que poderia ser esperado comio resposta. No entanto, a apresentadora do telejornal Elise Lucet ficou em silencio mediante a situação.
Apesar da impunidade imediata, a jornalista Audrey Pulvar se manifestou na manhã do dia seguinte:
“Longe de ser uma escorregadinha, o caso Guerlain revelou-se de uma categoria racista. O racismo inquietante, ordinário e banal é a prova da lenta e séria construção de hábitos sociais racistas na França. Somente a rigorosa aplicação da lei, um olhar honesto da França sobre sua história e o dialogo poderão fazer com que nos não escutemos mais estes tipos de declaração na televisão ou em qualquer outro meio.”

A jornalista ainda aproveitou para recitar uma parte do poema de Aimé Cesaire, um grande poeta negro francês:
"Vibra... Vibra a essência da sombra, de asa em garganta, quanto mais ela falecia, a palavra "negro", saindo toda armada do berro de uma flor venenosa, a palavra "negro", toda suja de parasitas... a palavra “negro”, repleta de ladrões que rondam, de mães que gritam, de crianças que choram, a palavra “negro”, um torresmo de carnes que queimam, e asqueroso o e feito de chifre, a palavra “negro”, como a sol que sangra da garra, na calçada das nuvens, a palavra “negro” como o último riso velado da inocência, entre os dentes do tigre, e como a palavra “sol” é um disparo de bala, e como a palavra “noite”, um tafetá que a gente rasga... a palavra “negro”, seco, você sabe, do trovão de um verão que se arrogam das liberdades incrédulas"

O mesmo Aimé Césaire que insultado respondeu também um dia “ É este negro que vai te causar problemas”

Guerlain até agora sequer pediu desculpas...
 No site oficial da Guerlain. Foi publicado o seguinte comunicado:

"Inumeras pessoas ficaram chocadas com as palavras ditas por Jean-Paul Guerlain noJornal da France 2,no ultimo 15 de Outubro. Nos compreendemos perfeitamente: foi a falta de reaçao que devia ter sido realmente chocante..."

Tudo bem que a apresentadora foi totalmente passiva, mas dizer que a falta de reação foi ainda mais chocante que o proprio ato racista é demais... o que vocês acham?

Na pagina do Facebook eles também divulgaram uma nota:

"A sociedade Guerlain tomou conhecimento com consternaçao das declarações inadmissiveis feitas por Jean-Paul Guerlain.  Jean-Paul Guerlain, 73 anos não é mais acionista da Guerlain desde 1966. Não é mais assalariado desde 2002. Suas propostas são opostas à cultura, dos valores e da ética praticadas pela empresa que promove a diversidade dos talentos de todas as origens do mundo inteiro"

Empresa que promove a DIVERSIDADE DOS TALENTOS de TODAS AS ORIGENS no mundo inteiro?
A Guerlain nunca utiliza modelos negras em suas campanhas.E se auto-intitula promotora da diversidade dos talentos de todas as origens no mundo inteiro...

Veja algumas campanhas da Guerlain:





Pelas declarações do Sr Guerlain e da Sociedade Guerlain fica claro que estão tentando maquiar o racismo cometido. A luta pela igualdade racial não é só brasileira, é mundial.Se queremos evoluir devemos ser mais sensíveis a realidade alheia e nos manifestar!.
Entrem no Facebook da Guerlain e declarem suas opinião/ insatisfação sobre o ato racista do perfumista, a incoerência da Guerlain em jogar a culpa maior na apresentadora e se declarar como uma empresa que promove a diversidade de talentos. Mentira!

E você... ainda acha que o racismo realmente acabou?



quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Fala sério!




" Uma coisa é certa: elas deverão agradar a todos, ja que a variedade foi o quesito primordial na escolha das meninas."

Esta matéria saiu ontem, dia 4/11 no caderno de esportes do Jornal O Globo.
Nota-se pela foto a "variedade" de meninas (modelos) que eles escolheram para  a realização do GP da Formula 1.

Onde estariam as demais meninas mulatinhas e ruivas que foram citadas como pertencentes a este grupo?